quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Jardins e borboletas...


OLHA no teu jardim as rosas entreabertas, e nunca as pétalas caídas;

OBSERVA em teu caminho a distância vencida e nunca o que falte ainda;
GUARDA do teu olhar os brilhos de alegria e nunca as névoas de tristezas;
RETÉM da tua voz risadas e canções e nunca os teus gemidos;
CONSERVA em teus ouvidos as palavras de amor e nunca as de ódio;
GRAVA em tua pupila o nascer das auroras e nunca os teus poentes;
CONSERVA no teu rosto as linhas do sorriso e nunca os sulcos do teu pranto;
CONTA aos homens o azul das tuas primaveras e nunca as tempestades do verão;
GUARDA da tua face apenas as carícias, esquece as bofetadas;
CONSERVA de teus pés os passos retos e puros, esquece os transviados;
GUARDA de tuas mãos as flores que ofertaram, esquece os espinhos que ficaram;
De teus lábios CONSERVA as mensagens bondosas, esquece as maldições;
RELEMBRA com prazer as tuas escaladas, esquece o prazer fútil das descidas;
RELEMBRA os dias em que foste água limpa, esquece as horas em que foste brejo;
CONTA e mostra as medalhas das tuas vitórias, esquece as cicatrizes das derrotas;
OLHA de frente o sol que existe em tua vida, esquece a sombra que fica atrás;
A flor que desabrocha é bem mais importante do que mil pétalas caídas;
E só um olhar de amor pode levar consigo calor para aquecer muitos invernos;
A bondade é mais forte em nós
e dura muito mais do que o mal que nós mesmos praticamos;
Seja OTIMISTA, e não te esqueças de que...
É NO FUNDO DA NOITE SEM LUAR QUE BRILHAM MUITO MAIS AS ESTRELAS!!!




"O choro pode durar uma noite;mais a alegria vem pela manhã"salmo 30

Asa de Anja


Ah! Dentro de toda a alma existe a prova de que a dor como um dardo se renova quando o prazer barbaramente a ataca...
Augusto dos Anjos

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Por não estarem distraídos...



Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector





Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
(A Hora da Estrela)
Clarice Lispector

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Momentos de tormenta



As noites chuvosas são o lamento dolorido do meu ser,
sentindo tua ausência.
É o breu que acompanha o fim.
O tormento causado pela solidão.
Dias gélidos de névoa n'alma.

J.®...13/02/2010...às 22:05




A esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe a crença. Vão-se sonhos nas asas da descrença, voltam sonhos nas asas da esperança.

Augusto dos Anjos

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sexta-feira de carnaval.



Caia uma chuva fina.
O céu sem estrelas,sem lua,de um azul profundo.Apenas algumas nuvens pesadas e brancas pairavam.
O tempo frio,banhado por um silêncio sepulcral e corrosivo.Alguns latidos e cantos de grilo compunham a orquestra solitária.A noite parecia chorar junto,o fim de um tempo bom.
Sentia-me profundamente dentro de mim,é como se buscasse algo que não mais existe;como se a imagem no espelho tivesse refletido dois,mas era apenas um,Eu!
Não havia sombras,nem evidências,sempre existirá somente a minha imagem.
Nítida.Quieta.Serena e confusa ao mesmo tempo.Sem respostas para o momento.
O vento começou a soprar mais forte e frio,como se para me advertir,que chegara a hora de seguir adiante.Trilhar um novo caminho.Buscar a realidade.Só.Sem ilusões,sem amores fantasiosos,sem as juras compartilhadas.
Não havia mais nada.
Não havia mais ninguém.
Só um vazio desértico.Doído. Uma vontade de chorar,mas não havia lágrimas,só o vazio profundo provocado pela dor no peito,n'alma,no sentimento vivido sozinho.
Ao longe ainda pude ouvir uma canção,uma batida descompasada,talvez fosse meu coração,e mais uma vez o vento me perturbava,tirando-me do transe que o momento me oferecera.
Imagens se passaram em minha mente,e a mais perfeita,transparente,clara e dura realidade,o fim.
Era uma sexta-feira de carnaval,sem fantasias.

J.®...12/02/2010...às 23h

AnjoDaAnja.



SOLITÁRIO

Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
-- Velho caixão a carregar destroços --

Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
Augusto dos Anjos